sábado, 19 de junho de 2010

Harém

O harém era um lugar à parte, no palácio do sultão, proibido a todos os homens, exceto o sultão e os eunucos.
A palavra árabe “haram” significa “o que é resguardado, sagrado”.
Sob uma aparente tranquilidade luxuosa, havia uma organização rigorosa e disciplina severa, dado o grande número de mulheres residentes, centenas delas. Existiu um harém indiano, do grande Mogul Akbar (1556-1605), com mais de 5 mil mulheres. Tão grande número de mulheres para um único homem fazia ferver de fantasias a imaginação dos viajantes ocidentais.
Quem detinha a autoridade do harém e a tudo comandava era a “Valide”, a mãe do sultão.
Quando um sultão subia ao trono, a sultana-mãe era conduzida ao Palácio, com toda a magnificência, instalando-se nos melhores e mais luxuosos aposentos do harém. A ela cabia administração e as decisões referentes a todo o conjunto harêmico. O grande sonho das mulheres do harém era um dia tornar-se sultana “Valide”.
Os eunucos, ainda meninos, eram capturados nas selvas africanas, geralmente no Sudão, e vendidos a mercadores de escravos que providenciavam a castração. Essa mutilação era feita de modo bastante rudimentar e poucos sobreviviam, tornando-se, por isso, mercadoria valiosa.
Os eunucos, assim como as escravas, eram vendidos nos mercados árabes, indo depois, parar nos haréns dos palácios. A função dos eunucos no harém era a de guardião das mulheres.
Seres híbridos, meio homem, meio mulher, serviam os eunucos de ligação entre o harém principesco e o mundo exterior. Quando ingressavam no harém, tanto os eunucos como as mulheres, recebiam um novo nome. A vida anterior ficava para trás. Outra vida, outro nome.
As escravas do harém eram, geralmente, cristãs de origem européia, visto que para um muçulmano é pecado escravizar outro. Algumas advinham de pilhagens de guerras, outras eram capturadas e vendidas nos mercados árabes. Embora tivessem algumas obrigações a cumprir, determinadas pela “Valide”, viviam ociosamente.
Assim, dedicavam muitas horas do dia aos rituais dos banhos turcos.
Nas piscinas e nos bancos de mármore, ficavam imersas nos vapores quentes, desfrutando horas de conversas, brincadeiras e, como não podia deixar de ser, tecendo intrigas, pois o harém era um lugar de rivalidades e traições.
As massagens, feitas pelos eunucos ou outras escravas, também faziam parte do seu dia a dia.
Eram banhadas depois em águas perfumadas com pétalas de rosas e essências raras.
Lindas e sedutoras, encaminhavam-se para outras salas onde cuidavam dos cabelos, pintavam as unhas e se maquiavam. Depois, vestiam-se luxuosamente e adornavam-se com inúmeras jóias.
Passavam o resto do dia deitadas sobre ricas almofadas, conversando, comendo, tocando instrumentos, jogando, bordando, etc. Outras passeavam pelos jardins, dançavam, fumavam arguile. Eram todas escravas de luxo.
Assim transcorriam seus dias, enquanto esperavam pela chamada do sultão. Esse era o objetivo. Sendo uma delas escolhida, era perfumada, vestida suntuosamente pelas outras mulheres e conduzida pelos eunucos aos aposentos do califa. E se dela ele se agradasse, tornava-se favorita. Se viesse a ter um filho do sexo masculino, tornar-se-ia esposa, e se esse filho fosse o primeiro do sultão passaria a ser primeira-esposa.
Se, porém, após nove anos, nunca fosse chamada pelo sultão, podia sair e casar-se fora do harém imperial. Chamada que fosse apenas uma vez, tornava-se reclusa perpétua.
Com todos esses ingredientes – sultão, odaliscas, eunucos – o harém permanecerá para sempre, na memória ocidental, como um mundo de mistério, magia e sedução.

Tempestade Lunar

(Viviane Braga)

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