quarta-feira, 11 de maio de 2011

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS NO ENSINO DA DANÇA



Cacilda J. Andrade , Márcia R. V. Nunes , Christian Dufour


Abstract: This paper deals with skills that should be known, learned or improved with respect to the teaching of dance in different age groups and their corresponding psychomotor difficulties. One important objective is to provide options for the teacher to correlate recreational activities during the lessons and enhance learning in relation to student’s physical space and body awareness. Its application is valid for teachers committed to improve the quality of their teaching with respect to physical and mental aspects of the practice of this art. This is important for the professional who wants to stand out in the dance community for its seriousness and teaching competencies. It is also a key factor for student satisfaction, positive class evaluation and his consequent interest in returning to future classes or even to participate in a dance show. To better explain this, the experience of belly dancing teaching is used as an example.

Index Terms : dance, belly dance, skills, education, teaching methods.


INTRODUÇÃO
Cada vez mais o acesso à informação é facilitado pela evolução da tecnologia. Agora, o acesso ao conhecimento independe disso, está relacionado à forma como se aprendeu, foi apreendido e ensinado. Isto leva o ensino da dança, como uma arte que expressa movimentos e interpreta todo um contexto, a ser cada vez mais repensado e melhorado, para que se possa entreter e/ou formar pessoas, seja profissional, amador ou simplesmente um amante da arte, com alto nível de qualidade, sendo difundido cada vez mais.
A Dança é uma área muito abrangente e diversificada, o que reflete diretamente na heterogeneidade de seu ensino, alvo principal deste trabalho. Neste caso, proporcionado de maneira formal ou informal, com ou sem metodologia de trabalho, com ou sem uma linguagem comum do estilo adotado, ao redor do mundo todo. Mediante este cenário é que foram discutidas, analisadas e propostas algumas competências básicas, em um sentido mais amplo desta palavra em si. As competências são consideradas como os elementos pessoais necessários para o ensino, no caso, da dança com alta qualidade e de forma bem sucedida.
Inicialmente é preciso entender alguns conceitos relacionados abaixo, tanto com relação à didática quanto às competências pessoais. Com base nisto, é abordada a aplicação e vivência dos mesmos num ambiente específico, no ensino da dança do ventre no Brasil.
A Tabela I expressa alguns conceitos importantes quando aplicado a um facilitador (também referenciado como instrutor, educador, professor ou mestre), para que entenda melhor seu perfil e o que poderá fazer ou desenvolver com relação às suas aulas na área da dança.

TABELA I

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS
INFORMAÇÃO Aquele que transmite um dado, um fato ou notícia
CONHECIMENTO Aquele que conhece, que sabe o que fazer, adquirido por estudo e prática
HABILIDADE Aquele que é capaz, ágil, que sabe como fazer, com capacidade de colocar em prática o seu conhecimento
ATITUDE Aquele que tem a iniciativa, que atua para fazer, que parte para a transferência do seu conhecimento
DESEMPENHO Aquele que atinge as metas estabelecidas, realiza as tarefas e alcança os resultados determinados propostos

DIDÁTICA NO ENSINO DA DANÇA
Didática é a forma de se ensinar, de passar as informações, uma verdadeira arte na passagem do conhecimento. Como qualquer atividade, pode ter seus diferentes níveis de qualidade e desempenho, isto vai depender do educador, no caso, referenciado como professor, baseado em sua própria formação e especialidade de dança.
O sucesso no resultado final do ensino, ou seja, no aprendizado, depende de ambas as partes, tanto do desempenho do professor como do comprometimento e dedicação do aluno [1]. Para um melhor aproveitamento, o aluno também deve estar motivado. Lembrando que a motivação, algo muito individual, está intimamente ligada à metodologia de ensino, seu estado de espírito e intenção, além do grupo em que o mesmo faz parte [13].
O ensino de alguma arte, como a dança, requer uma preparação diferenciada, tais como a necessidade de “compreender os direcionamentos, as teorias, as novas descobertas, os treinamentos sensitivos, a expressão e a consciência corporal, os exercícios de convivência, a lapidação interior” e também o entendimento dos “desbloqueios, as solturas de quadril e as técnicas de imaginação” [2].


COMPETÊNCIAS NO ENSINO DA DANÇA
O papel do professor é transmitir seu conhecimento sobre a área/assunto específico de forma que o aluno consiga entender e praticar, dentro de suas limitações. Ou seja, o resultado do seu trabalho é o resultado que o aluno obtém, uma vez que demonstra a eficiência de sua didática. Com base nisso, segue abaixo as competências básicas pessoais observadas e sugeridas que um professor deve ter no ensino da dança [3]. Caso não o tenha, pode ser encarado como uma sugestão para mais um desafio de seu processo de desenvolvimento dentro da carreira escolhida.
• Saber ouvir: prestar atenção e analisar o que o aluno falar, seja através da comunicação verbal ou interpretação de sinais não verbais, sendo aberto às pessoas;
• Saber expressar: transmitir todo seu conhecimento de forma clara e correta, tanto da parte escrita, oral e corporal, principalmente, sempre dentro de um ambiente favorável à comunicação;
• Ter iniciativa: buscar soluções e informações de forma pró-ativa, interna ou externamente ao seu ambiente de trabalho;
• Saber identificar: observar o aluno, para orientá-lo melhor tecnicamente e identificar assim o motivo da dificuldade na execução do que foi ensinado;
• Ter persistência: repetir e insistir quantas vezes forem necessárias e exigidas, tanto para o ensino teórico como para o prático;
• Saber mudar: alterar a forma de transmitir o conhecimento ou executar um movimento sempre que necessário;
• Ser auto-confiante: demonstrar confiança sobre a sua capacidade de ensino ao transmitir seu conhecimento, independente da técnica utilizada;
• Saber relacionar-se: saber interagir com os alunos, sem preconceitos e respeitando tanto seu limites como o dos alunos, reconhecendo sempre sua importância.

Conforme já mencionado, as competências básicas pessoais acima são indicações e como tal, estão em constante evolução, podendo mesmo ser incluída alguma outra cabível ao ensino e aprendizado de sala de aula do mundo da dança.
Essas competências associadas ao conhecimento dos aspectos físico, fisiológico e psicológico, como abordado abaixo, contribuem para um melhor aproveitamento em aula, tanto do aluno como do professor.

APLICAÇÃO NO ENSINO DA DANÇA DO VENTRE NO BRASIL
A Dança do ventre é um estilo de dança milenar que na última década teve um grande crescimento a nível mundial e principalmente no Brasil, devido principalmente aos meios de comunicação que tornaram seu acesso popular e divulgação através de novelas, programas de TV e Internet. Também conhecida como Dança Oriental ou em árabe como Raks El Shark [12]. De origem árabe, é uma dança tipicamente feminina, focada no resgate da feminilidade e basicamente com movimentos originários e inspirados no dia-a-dia do mundo árabe do Oriente.
A dança do ventre tem se mostrado uma eficaz opção no processo de apoio ao desenvolvimento psicomotor (o comportamento relacionado aos reflexos) dos praticantes. Por se tratar de uma atividade em que se trabalha o corpo em sua totalidade, físico, fisiológico e mental, ressalta-se a importância psicológica [4] que esta atividade exerce sobre as pessoas, desenvolvendo também sua auto-estima e autoconfiança. A figura 1 retrata o relacionamento entre o aspecto físico, fisiológico e psicológico, explicados melhor abaixo. Estes três aspectos estão ligados entre si e são trabalhados durante o aprendizado da dança, ajudando assim na formação do indivíduo e consequentemente na formação do aluno.
Já a figura 2 demonstra uma sala de aula, onde a postura, a simetria, a coordenação motora e o equilíbrio, dentre outros, contribuem para um melhor aprendizado da dança.

ASPECTOS TRABALHADOS NA DANÇA DO VENTRE
Vale ressaltar que os aspectos abordados a seguir, apesar de sugerirem um trabalho direcionado a determinadas faixas etárias, são identificados em qualquer idade. Foram usadas as faixas da Infância e Terceira Idade, por se tratarem de períodos em que requer mais cuidado e atenção.
Aspecto Físico
Focando-se em Dança do Ventre, pensa-se em um conjunto de passos, movimentos tecnicamente perfeitos, bem executados, ou seja, uma visão restrita apenas da parte plástica e visual da dança. Mas quando a idade do aprendizado do aluno se mescla com a do aprendizado do próprio corpo (no caso da infância, entre 3 a 9 anos [6]) ou coincide com a do início da perda desta consciência (no caso da 3ª idade, acima dos 55 anos), é necessário desenvolver um trabalho em paralelo, que envolve educação e consciência corporal (onde estão envolvidas as noções de lateralidade[9], motricidade [10], educação sensorial, coordenação motora [11], organização espaço-temporal, postura, controle do tônus muscular, coordenação dinâmica geral, coordenação dinâmica específica, equilíbrio etc).Esse tipo de estudo é muito bem aceito pelo aluno na medida em que seja feito de forma lúdica, correlacionando com brincadeiras (no caso da infância [6]) e/ou com atividades do dia a dia da pessoa (no caso da 3ª idade [7]). É importante também observar o limite físico individual de cada um, principalmente nos momentos iniciais da aula, durante o alongamento e aquecimento, para não gerar lesões e/ou consequências graves no aluno. Outro item importante é o levantamento junto ao aluno de problemas físicos e/ou orgânicos que por ventura ele possa ter ou já teve. De posse destes dados, o professor poderá então elaborar as aulas de uma maneira mais proveitosa. Portanto o conhecimento da anatomia, da cinesiologia [8] (estudo do movimento), da fisiologia e mecânica do movimento, é fator primordial para o professor obter sucesso junto aos alunos. Pois abordando todos estes tópicos, poderá sim tanto o aluno infantil como o da 3ª idade, desenvolver a dança de uma maneira natural, respeitando é claro, o tempo individual de aprendizado.


Aspecto Psicológico
Ao adentrar neste assunto, vale a pena recordar as inseguranças, medos e expectativas da infância. Neste caso o trabalho acontece nas duas extremidades da linha existencial de um indivíduo (infância [6] e 3ª idade [5] e [7]). Após alguns estudos e trabalhos desenvolvidos, pode-se afirmar que existe uma particular relação psicológica em desenvolver e/ou resgatar a auto-estima e a autoconfiança, entre estas duas extremidades etárias. Ou seja, a dificuldade física é altamente acentuada devido ao estado psicológico em que o aluno se encontra no presente. Para romper barreiras tão sólidas é necessário um trabalho individualizado, onde como regra geral, se começa pelo o que o aluno consegue executar com perfeição, independente de constar ou não no cronograma de aula, para depois sim, a partir deste ponto, conduzi-la ao estado desejado. O benefício psicológico da Dança do Ventre faz com que o aluno carregue para fora da sala de aula a autoconfiança e que crie novas expectativas, contribuindo assim para uma melhor socialização. Este caminho, do ponto em que o aluno se encontra até o estado desejado, é onde o professor deve ter a sensibilidade e cuidado na condução, pois se pode obter resultados altamente contrários ao esperado, porque a frustração será uma ameaça constante para o aluno em questão.


Aspecto Fisiológico
São muitos os benefícios fisiológicos, já relatados em diversos estudos, que a dança do ventre acrescenta [4]. Na Dança do Ventre, como em qualquer outra atividade física, é necessário criar uma rotina para melhor aproveitamento do aprendizado, com isso os órgãos do corpo respondem prontamente, pois uma melhora na respiração (através de exercícios abdominais dirigidos) faz com que oxigene melhor o cérebro e músculos, normalize batimentos cardíacos. Enquanto que também, através de exercícios de fortalecimento, bem como os movimentos sinuosos de tórax e quadril acabam por ajudar no aparelho digestivo, onde os movimentos peristálticos ganham maior poder, pois a irrigação dos mesmos se faz de maneira mais dinâmica. Os músculos também são oxigenados, criam novas fibras e terminações, novos vasos para irrigação. Com isso a sensação de bem estar físico aumenta.

CONCLUSÃO
A comunicação através da dança é uma arte que pode ser
apreciada por todos. O ser humano dança para se comunicar, expressar seus sentimentos e/ou crenças, desde os primórdios dos tempos. Não importa quem é o bailarino, o estilo, a música ou onde a dança está acontecendo, a comunicação acontece, e é recebida pelo espectador, independentemente de sua origem. Mas para esta comunicação acontecer, se faz necessário todo um processo de aprendizado mental e corporal.
Não basta apenas o conhecimento do professor para o sucesso da sua didática, precisa também aplicar as competências básicas suficientes na interação com o aluno. Isto é parte do processo de melhoria contínua do professor, por uma exigência da própria comunidade e constante preocupação e atualização profissional.
Com base nos aspectos abordados, percebe-se que uma sala de aula de dança mista, onde o físico e o psicológico têm grande manifestação, exige uma habilidade ainda maior do professor. Pois ao mesclar idades e psicomotricidade (físico, motor e psicológico) diferentes permite-se a potencialização das dificuldades individuais, de forma que o aluno com maior dificuldade de absorção de conhecimento, acaba por se frustrar e desistir da dança. Sendo assim, o professor deve aplicar uma didática específica e dirigida para perfis diferentes voltada para a motivação individual. Vale a pena ressaltar que, tanto o aspecto físico como o psicológico, também devem ser cuidadosamente trabalhados em um terceiro grupo de alunos, onde se pressupõe que haja mais facilidade física e mental para o aprendizado, mas que mesmo assim é possível encontrar-se barreiras.

REFERÊNCIAS
[1] Varella, Lélio et al, "O sucesso no desempenho gerencial - aprimorando competências de gerente de projetos", Vol 1, Rio de Janeiro: Brasport, 2010.
[2] Sabongi, Jorge, "Direção e preparação artística", 1.ed, São Paulo, 2010.
[3] Carnegie, Dale & Associates, Inc., "O líder em você", 12. ed, Rio de Janeiro: Record, 2004.
[4] Abrão, Ana C Peto e Pedrão, Luiz Jorge. “A contribuição da Dança do Ventre para a educação corporal, saúde física e mental de mulheres que frequentam uma academia de ginástica e dança”, Rev Latino-am Enfermagem 2005 março-abril, ead.eerp.usp.br/rlae .
[5] Moreira, Andreza G G et al, “Atividade física e desempenho em tarefas de funções executivas em idosos saudáveis: dados preliminares”, Rev Psiquiatr. clín. 2010, vol 37 (3), Belo Horizonte, www.scielo.br/rpc .
[6] Maluf, Angela Cristina Munhoz, “Atividades Lúdicas Como Estratégias de Ensino e Aprendizagem”, www.scribd.com.
[7] PEP Programa de Educação Postural, “Terceira Idade”, www.programapostural.com.br.
[8] Barone, Sandro, “Cinesiologia Parte 1”, “Biomecânica Global, Biomecânica da Pelve e Quadril, Biomecânica do Pé e Tornozelo, Avaliação e Flexibilidade, Aula de Flexibilidade, Aula IX Articulação da Cintura Pélvica e do membro inferior”, Universidade Bandeirante, www.slideshare.net.
[9] Damasceno, Igor Zumba, et al, “O Uso de Jogos e Brincadeiras no Desenvolvimento da Lateralidade e Estímulo de Sentidos”, São Paulo: UNESP, 2005, www.unesp.br.
[10] Godoy, Kathya Maria Ayres de, “A Arte no Contexto da Motricidade Humana”, MOTRIZ - Rev de Educação Física, vol 5 (1), junho/1999, www.rc.unesp.br.
[11] Dias, Viviane Kawano e Duarte, Priscila S F, “Idoso: Níveis de Coordenação Motora sob Prática de Atividade Física Generalizada”, Rev Digital, Buenos Aires, Ano 10, nº 89, outubro de 2005, www.efdeportes.com .
[12] Aton, Merit, “Dança do ventre, dança do coração”, 1.ed, São Paulo: Radhu, 2000.
[13] Guimarães, Sueli Édi Rufini e Boruchovitch, Evely, “O Estilo Motivacional do Professor e a Motivação Intrínseca dos Estudantes: Uma Perspectiva da Teoria da Autodeterminação”, Psicologia: Reflexão e Crítica, 2004, 17(2).

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