sábado, 3 de março de 2012

Dançar é...


"Dançar é escrever com o corpo no espaço estendido à frente, alongar-se, encolher-se, rodopiar, inclinar-se. Jogar-se em absoluta confiança no outro que ampara, depois de centenas de ensaios...
Dançar é tocar música com gestos, com os pés, absolutamente sem voz, na arrasadora maioria das vezes.
Dançar é interpretar com meneios e oscilações impressionantes ao nosso olhar supreso, pois temos os pés no chão, as nuances da mensagem, do enredo, da palavra em das formas desenhadas no espaço...
O corpo é o instrumento dos dançarinos: suas mãos libélulas, suas mãos borboletas, suas mãos colibris escrevem versos no ar... Seus pés com centenas de microfraturas, seguem intinerários que a cada instante começam, recomeçam e se repetem...
A coluna é de borracha, de látex, de seda... Curva-se, encaixa-se, projeta-se. E como dói, mas que
importa, se é o centro da soma?
O rosto parece cheio de luz e não revela os sofrimentos e nem os cansaços... Há um sol em cada um dos olhos, às vezes, um luar de ouro, pois sempre brilham de prazer, no vício sagrado impossível de desfazer.
Já vi bailarinos em cadeiras de rodas, cada célula a vibrar, como se fosse um palco particular. Já os vi com próteses de celulóide, em pleno vôo... Já vi os que não mais podem bailar, tornarem-se
mestres, para que os outros possam dançar por eles...
Que magnífica mensagem vemos nas sapatilhas esfarrapadas e disformes, que foram um dia de superfície lisa e brilhante, cetim e forma...
Quantos já dançaram com pés sangrando, joelhos inchados, microfraturas?
Quantos choravam lutos e perdas enquanto sorriam?
O dançarino é feito de retalhos dos deuses, lançados na Terra, para que não possam ser esquecidos em sua divindade...
O dançarino tem um pouco de ave, de borboleta, libélula, pluma, floco de algodão, pétala, sempre a dançar na luz...
Autor desconhecido

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