quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Entrevista com Naima Yazbek

 Naima Yazbek

Naima Yazbek, Brasileira de origem Libanesa, 43 anos, graduada em Psicologia.
Danço desde pequena, tendo praticado um pouco de ballet, dança moderna e Jazz na infância e adolescência...Depois Dança Afro-Contemporânea, entre outras... Por 14 anos pratiquei Capoeira e pesquisei Danças Folclóricas brasileiras.
A Dança Oriental e Dança do Ventre comecei em 1996 (18 anos atrás), com Merit Aton, seguindo pesquisas e estudos com workshops de outras profissionais brasileiras/os e estrangeiras/os no Brasil e exterior...
Acabei não seguindo a carreira de psicóloga mas trabalhei com eventos e tradução por 15 anos no Brasil e exterior .
Pouco a pouco fui tomando coragem em viver da dança quando em 2001 fui convidada para um projeto artístico-social na Alemanha.
Entre outros trabalhos aos poucos fui passando a focar e encarar a Dança Oriental como minha principal profissão.
Estudei Canto Popular entre outros cursos de música na Universidade Livre de Música Tom Jobim em São Paulo e comecei também uma carreira paralela de cantora, depois no Líbano, passei a cantar música brasileira e a divulgar o Brasil através de shows de samba e cultura popular brasileira.
Moro no Líbano desde 2009, entre indas e vindas, ao Brasil e outros países e constante luta para ter direitos de trabalho aqui ou uma residência que me permita exercer a profissão de artista de maneira plena e digna.
 Entrevista
1 - O que te motivou a sair do Brasil?
Por mais que goste do Brasil, sempre gostei de ir pra fora e assim fui atrás desse sonho...
Morei várias vezes fora, a primeira vez minha família me mandou quando adolescente e fui fazer intercambio nos EUA para aprender inglês e viver na casa de uma família de lá, tive esta ótima oportunidade que me impulsionou a querer morar sempre fora... Depois, formada na faculdade de Psicologia no Brasil  fui trabalhar nos EUA num acampamento de verão... Mais tarde, já com 30 anos fui convidada a um projeto artístico na Alemanha; estavam selecionando capoeiristas e fui fazer o teste... No final fui escolhida entre alguns rapazes, ainda que minha idade era superior à aceitar, mas por jogar capoeira, cantar e Dançar a dança do ventre entre outras coisas... Esse projeto foi fundamental pra que eu começasse a me enxergar como uma pessoa que quer viver da dança e arte... Coisa difícil no Brasil... Na Alemanha e países vizinhos fizemos 40 apresentações multiperformáticas e demos workshops, fiquei encarregada em ensinar a Dança do Ventre para meninas e adolescentes na sua maioria Alemãs e turcas...Um projeto muito legal contra racismo, violência, etc...Tomei coragem e quando acabou o projeto quis ficar mais na Europa, mas como não dava pra ficar trabalhando ilegalmente (na época eu ainda não tinha passaporte português que é aceito na comunidade européia) fiquei no total de 6 meses. Cheguei a ser deportada da Inglaterra por suspeitas, não sei do que e por ter sobrenome árabe e estar vindo do Egito numa época em que todos árabes eram suspeitos de terrorismo devido ao incidente das torres gêmeas em Nova York em 2001. Consegui não ser deportada para o Brasil, mas voltei à Alemanha país que originalmente me convidou para trabalho, logo voltando ao Brasil.
Queria ir ao Líbano, sempre quis ir buscar as minhas raízes; quando comecei a praticar a dança do ventre pensava “que pena, que eu não tenha nascido no Líbano pois poderia nascer  sabendo esta dança... Agora que minha família está no Brasil tenho que batalhar pra ir pra lá”... hahaha (hoje em dia penso diferente mas era legal ter isso como meta) mas as histórias das guerras e dos terrenos “embaixo de bombas” que era teoricamente o que sobrou da minha família no Líbano me faziam adiar o plano... Estava tomando coragem e me organizando de ir pro Líbano quando a guerra de 2006 aconteceu com Israel... Sonhava através de filmes e clipes da TV árabe no Canal ART que assistia em São Paulo, dos filmes da Golden Era egípcia, e das danças e musicas exibidas... todas me interessavam e eu gravava tudo em VHS...
Quando estudei Canto Popular na ULM Tom Jobim em São Paulo; além da música brasileira, me interessei por Jazz e também comecei a aprender um pouco de música árabe e mesmo sem saber o que estava falando memorizei letras para cantar nos espetáculos junto as minhas alunas de Dança Oriental no Clube Monte Líbano entre outros locais.
Enquanto isso cada vez que eu ia à Europa eu dava um jeito de ir ao Egito...
A primeira vez que fui ao Egito foi em 2002, depois quando voltei a morar na Europa, em 2005,  juntei dinheiro pra ir ficar um mês, pesquisando, filmando, tendo algumas aulas, de canto e dança árabe...Na época os euros valiam bem e comprei roupas, vídeos e viajei sozinha para o Egito de Sul a Norte, assisti todos os shows que podia... Era mais estável a situação política do país .
As viagens sempre causando confusão na minha vida afetiva mas eu sempre acabava tomando a decisão de seguir viagem... Não me via no Brasil, nunca quis investir em uma carreira a longo prazo lá... Sempre me preparando pra ir pra fora, ver como era realmente a música e a dança no país árabe, não na colônia... Tive que fazer duras escolhas, deixar um relacionamento longo, praticar alguns desapegos...
Mesmo tendo trabalhado bastante tempo em São Paulo, tendo dado aulas, coreografado no Clube Monte Líbano e sempre organizando apresentações com minhas alunas, que adoro, tive que pouco a pouco tomar decisões...
Finalmente consegui ir ao Líbano em Dezembro de 2008... Eu iria chegar logo antes do Ano Novo, e um dia antes da minha partida de São Paulo para Beirute  estourou um grande conflito em Gaza prometendo novamente problemas entre Líbano e Israel, mas eu não pude esperar e resolvi ignorar as notícias e embarquei mesmo sem ter nenhum contato e nem reserva de hotel. O único contato que eu tinha era um e-mail que meu tio me passou, de uma guia de turismo brasileira, a Zilda Naves, que acabou me ajudando a me situar fisicamente, culturalmente e acabou sendo como uma mãezinha e grande amiga.
Em Gaza os conflitos pegando fogo e ninguém sabia se a guerra ia estourar ou não, todos dias assistíamos TV pra ver o que o líder do Hezbollah tinha a dizer em tom profético e as noticias... Mas mesmo com ameaças diárias, eu fui gostando do pais e fui passeando, indo visitar as cidades de onde vieram meus antepassados...e aos poucos fui me acostumando com o “jeitinho libanês de ser e estar”, vivendo a cada dia como único e sem poder planejar muita coisa por não saber o que ia acontecer, assim como qualquer Libanês.

2 - Qual a maior dificuldade que você encontrou para se estabelecer como dançarina fora daqui?
Todo o tempo, todo o maior problema foi burocrático, em ter papéis pra trabalhar legalmente...Seja na Europa ou no Meio Oriente... Digo isso em relação a minha escolha de ter ido sozinha atrás dos trabalhos...
Diferentemente do caminho que optei uma bailarina pode já sair do Brasil com contrato de trabalho para trabalhar no Meio Oriente, por período de tempo determinado, burocracias e papéis organizados sim, mas este trabalho acaba sendo para as que preenchem um perfil determinado que preza as vezes pela aparência física e idade mais do que pela habilidade e experiência na dança. Dificilmente os contratantes e agentes vão escolher para um primeiro contrato uma moça acima dos 30 anos para começar uma carreira de dançarina no meio oriente... Eu tinha 33 anos quando pensei em ir atrás dessa possibilidade, tarde demais para os contratantes, ainda que já tivesse experiência na dança.
As dançarinas que vem trabalhar no Meio Oriente com um contrato acabam tendo a chance de dançar geralmente com musica ao vivo todos os dias e se aprimorarem muito podendo se tornar boas profissionais e artistas, mas raramente vão poder viver e seguir tal carreira a longo prazo no próprio Meio Oriente, pois os contratantes da área de entretenimento vão sempre prezar pela novidade e querer agradar aos clientes e suas mentalidades. Elas precisam batalhar muito pra que não as aposentem com o passar do tempo... Eu acredito que com o passar do tempo a dançarina adquire uma maturidade e experiencia que só as fazem melhores, mas infelizmente não é assim que os contratantes pensam...
As leis dificultam sua estadia longa também; a única solução seria o casamento com um homem do local, que acaba trazendo um outro bando de questões sociais, culturais e religiosas que podem ajuda-la no momento mas na maior parte das vezes podem  mais afastá-la da dança ou fazê-la ter que optar por uma coisa ou outra.
3 - As brasileiras sofrem algum tipo de discriminação?
Hoje em dia o brasileiro ou brasileira é mais bem visto no exterior do que a 10 anos atrás por exemplo… Pelo fato do Brasil ser mais promissor comercialmente para estrangeiros, talvez entre outros motivos, é mais legal ou «cool » hoje em dia ser brasileiro no exterior do que antes… Mas a mulher brasileira sempre carrega o clichê de ser sensual, ou sexual, mais aberta, ou acessível, vamos dizer que este é o esteriótipo, que tem o lado ruim e o bom também... Não estou especificando aonde... No Líbano é legal você falar que é do Brasil, todo mundo tem um parente ou um amigo brasileiro e os libaneses tem carinho pelo Brasil. Sempre sou bem recebida por ser brasileira.
As mulheres que sofrem maior preconceito na sociedade libanesa são as russas, filipinas, sírias, africanas entre outras; pois são estas na maioria, que vem ao Líbano, trabalhar e fazer trabalhos que não tem suficientes libanesas pra executar... “Dançarinas” (que dançam como profissão ou que são acompanhantes em cabarés), empregadas domésticas, babas, profissionais de limpeza,  etc... Mas tudo e’ bem controlado pelo exército da emigração com contratos de trabalho, exames de sangue e altas taxas para organizar um sistema que não favorece as mulheres.  
A minha crítica e batalha é esta, que como mulher, estrangeira mas libanesa também; que contribui, trabalha e paga taxas em uma sociedade e ter que estar sob suspeita constante de prostituição, além de ser proibida de poder voltar ao Líbano como turista ou como qualquer outro cidadão do mundo que pode vir aqui passear, pois depois que fui registrada na categoria de dançarina fiquei proibida de pisar no Líbano, como ser humano só posso voltar aqui sob as mesmas condições e com o mesmo visto que me estigma. Pago o preço do preconceito.
A minha descendência libanesa tampouco me ajuda a ter a nacionalidade dado o fato que somente o pai, somente o homem libanês pode dar a nacionalidade... Minha mãe tem origem 100% libanesa e meu pai tem uns 25% que vem pelo lado da mãe dele, então mais uma vez mesmo sendo muito libanesa na minha genética, não posso ter direitos como libanesa... Estou batalhando várias possibilidades para residir aqui e ter direitos assim como muitas outras mulheres lutam ou se calam por não terem direitos numa sociedade extremamente patriarcal.

4 - Já ouvimos muitos comentários sobre a opinião dos árabes a respeito da nossa amada Dança do Ventre, você convivendo com eles de perto pode nos dizer qual é real opinião deles?
A Dança do Ventre é respeitada como tradição sim, pelas famílias, pessoas, homens e mulheres. Elas tem orgulho de saber dançar e querem mostrar que dançam bem, querem mostrar sua habilidade e feminilidade também através dela... Mas existe um preconceito social, as moças podem dançar em discotecas, casamentos e eventos sociais mas optarem por isso como uma escolha profissional já é outra história. A dança do ventre não é profissão pra qualquer “moça  de família”... Não vou aqui tentar explicar as razões deste fato, mas é a verdade.  Poucas são as que enfrentam o preconceito abertamente, algumas trabalham escondidas da família ou vão trabalhar no exterior.  Num país árabe acabam sendo estrangeiras ou homens que conseguem fazer uma carreira respeitada (os homens podem sofrer preconceitos ao fazer shows mas existem mais coreógrafos renomados do que mulheres árabes que tem carreira longa na Dança Oriental). O fato de eu ser uma brasileira executando a Dança Oriental no Líbano, também chama a atenção, existe um leve preconceito ou desconfiança de que se eu sou de fora não poderia saber tal dança que é árabe, mas no final sou respeitada pelas pessoas que trabalho e trago técnicas nesta área, ainda que alguns ainda  aceitem ou deem o braço a torcer alegando que consigo dançar pelo fato de ter raízes libanesas também.
Dançar em grupos de folclore árabe é algo bem mais respeitado, tais grupos são praticamente obrigatórios nos casamentos e festas libanesas... As pessoas dançam muito e bem aqui, principalmente os homens tem sempre a iniciativa de dançar quando o Dabke soa alto no salão.
Dançar no estilo do grupo “Caracalla” também e’ respeitado, as pessoas enxergam tal estilo como uma junção de cultura, folclore, teatro, com lindos figurinos de época, isso seria um “abrandamento da parte sensual” da dança oriental mesclado à ballet, técnicas contemporâneas de dança, etc....
Mas a figura da Dançarina Oriental do ventre já sofre distorções, preconceitos... Elas sempre vão ser figura importante na cultura de um país árabe, tratadas muitas vezes como divas e maravilhosas pelo público...
Mas ao mesmo tempo que sempre são requisitadas como artistas para eventos, socialmente sua imagem é associada à prostituição infelizmente, ainda que muitas prezem por uma dança elegante, arte e amor pela dança, a dança do ventre hoje em dia sobrevive nos países árabes na sua maioria em ambientes machistas que prezam em oferecer um show para o deleite de homens que estão mais interessados em ver uma mulher sexy e seus peitos do que em ver uma bela dança ou show de caráter cultural... E as próprias leis que citei reforçam isso; da maneira que a sociedade pensa assim o faz. Estas mesmas leis são as que obrigam uma artista ou dançarina a fazer exames de Aids e sífilis a cada 3 meses, exame caro e de mandatório feito no próprio escritório da Emigração.
A lei as trata como prostitutas então como ser diferente? Temos que cada uma saber o que queremos desta dança, seja no Brasil, Meio Oriente ou qualquer parte do mundo. No mundo árabe, a dança é das mulheres mas a decisão está nas mãos dos homens, por isso temos que nos colocar, ter a postura definida... Cada uma é dona de seu corpo e sua dança e não julgo a ninguém por sua expressão, mas temos que nos impor como mulheres que dançam não para agradar a um clichê, mas muito mais do que isso, pelo amor a algo que é das próprias mulheres e que ninguém vai tirar delas!!
 5 - A remuneração que você recebe é a mesma de outras dançarinas de outros países?
Sim, o cachê é o mesmo mas as taxas que o contratante ou a estrangeira pagam para ela poder trabalhar legalmente são absurdas, fazendo que o ganho final seja muito reduzido.
6 - Como é o seu dia a dia?
Todo dia é um dia diferente… Tem dia que eu acordo cedo; outro dia mais tarde um pouco… Estou sempre dando aulas para várias mulheres de todos os tipos e idades, aulas de Dança Oriental… Workshops de dança folclórica brasileira (que pesquisei por alguns anos também) eventualmente, quando existe espaço para isso… Uma vez por semana dou aula para crianças especiais com síndrome de down, autismo, com problemas motores ou congênitos... Nesta aula ensino vários tipos de dança e expressão corporal, já que cada uma tem uma capacidade e ou limitação... Esta semana vou dar aulas num campo de refugiados para crianças sírias e libanesas em Akkar, no Norte do Líbano. Trabalhos sociais são muitas vezes feitos com ajuda de estrangeiros, não só na parte financeira mas como na sua mão de obra.
Todos fins de semana tenho shows, ou de Dança Oriental solo ou com um grupo de samba e batucada brasileira.  Eu  sabia sambar graças a Capoeira mas no Líbano virei passista também. Temos um figurino e visual adaptado à cultura local com penas cobrindo os quadris...
Faço shows cantando com minha banda Xango, banda que montei com um libanês que morou no Brasil e se apaixonou por Bossa Nova e outros estilos brasileiros... Os músicos com que trabalho aqui são muito profissionais, armênios e libaneses.
Trabalho também cantando e dançando com o compositor Ziad Rahbani, uma referência cultural no Líbano e filho da cantora Fairouz, lendária por todo Meio Oriente e Mundo Árabe.
Participo de uma batucada e movimento cultural brasileiro chamado “Segundo Bloco” onde dançando e executando Samba e outros ritmos brasileiros, fazemos um Carnaval no Líbano também.

7 - O que mais você poderia nos dizer para esclarecer definitivamente a problemática de se dançar nos Países Árabes para aquelas que receberam convite e/ou aquelas dançarinas novas na profissão e que ainda estão extasiadas com essa possibilidade?
Dou o maior apoio para as que possam ter tal experiencia pois vão ter a oportunidade de desenvolver sua dança e aprender mais sobre o mundo árabe... Simplesmente trabalhar com a dança já é a realização de um sonho para todas nos dançarinas, seja onde for.
Sim  sempre com olhos abertos, pois como eu  falei lá em cima, os contratantes pensam nos que lhes convêm mais do que prezar pela arte ou valorizar a mulher... Há exceções mas a mulher facilmente pode cair numa situação de fazer um papel que não à valoriza, e ser convidada para outras coisas e para prostituir-se.  Depende de cada uma saber o que quer da dança e a postura que tomar.  Muitas investem muito e não recebem de volta o investimento financeiro que tiveram com roupas e tudo mais... Mas acho que tudo é válido se estas forem pra batalhar a favor de uma bela dança e da mulher que dança porque gosta,  preservando seu estilo seja lá qual for, acima dos desejos dos homens!
Essa é uma mulher vitoriosa e vai estar fazendo um favor pra dança e pra todas nós!!!

8- Você tem planos de retornar definitivamente ao Brasil?
Nâo!! kkkk... Amo o Brasil mas prefiro vir ao Brasil só para ver minha família, amigos e eventuais intercâmbios... Não digo nunca voltarei a morar...mas hoje este não é o plano... Eu preferiria ir morar em outro lugar que não o Brasil, se não estiver morando no Meio Oriente... Mas claro que devo passar temporadas pois em São Paulo sinto-me em casa e onde meus pais e familiares mais próximos residem.

9 - Gostaria de te agradecer a atenção em aceitar a fazer esta entrevista e em especial ao carinho e amizade que me dedica e gostaria que você deixasse aqui uma mensagem para todas nós dançarinas que amam a Dança do Ventre e que estamos vendo-a ser tão deturpada!
Não me importo tanto que meu discurso tenha sido prejudicado pela edição do programa Fantástico... falei muitas coisas para o programa que não foram ao ar e sei muito bem o porque de eu estar la’ pra falar e o que eu queria falar... Mudaram o contexto do que eu falei mas ainda assim, tudo que ficou do que eu falei é verdade!
O que pode ter me incomodado foi a deturpação que as pessoas fizeram dos assuntos do programa, as pessoas condenaram a tudo e a todos os participantes... Se queriam reclamar, que se dirijam à emissora, no BRASIL graças a Deus eles tem direito de reivindicar seus pensamentos, que aproveitem seus direitos ate’ o limite e viva a democracia!!!
O que foi muito injusto foi eles terem criticado as pessoas como eu e que como eles querem falar e que aceitaram dar entrevista no programa para falar verdades que no Líbano acontecem, trabalhos que são desenvolvidos aqui e com muita batalha, as vezes não podendo falar abertamente, tomamos coragem e fomos lá falar, não pra criticar um povo ou raça (na qual me incluo com muuuuitoooo orgulho) mas porque batalhamos e vivemos e respiramos as leis no Líbano.
Falamos não  por nos mas por muitas libanesas e principalmente eu quis falar sobre a dança, a estrangeira e a mulher no Líbano... A emissora errou visualmente em colocar algumas imagens que remetiam ao Islam, dando margem que tal assunto da agressão poderia ser associado à tal religião... em nenhum momento eu falei de religião no meu discurso e entrevista... Falar de fatos e da minha realidade de vida e’ direito meu e de todos.
No fim das contas, como sempre sou uma pessoa positiva, pra variar achei tudo isso bom, que toda essa exposição sirva para que as pessoas mesmo que algumas não admitam, saibam que o assunto é serio, não e’ a toa que provocou tanta polêmica... Isso me fortalece e me dá vontade de lutar mais.
Muitas pessoas que me julgaram por impulso ou a emoção causada pelas mas interpretações que a matéria gerou, dignamente retiraram seus comentários ignorantes da  onde colocaram pois perceberam tamanha injustiça quando leram minha “carta de resposta em relação ao programa do Fantástico de 29 de Junho de 2014”.
Pessoas que querem continuar me julgando por preconceito ou por nada é direito delas, não estou nem aí, que postem nas redes sociais o que quiserem, que sonhem com o Líbano que lhes convêm, mas não julguem quem vive aqui e quer realmente contribuir para um pais. Que também batalhem aonde estiverem por seus direitos!
Estas pessoas que só falam e falam foram depois falar da Dilma, da Copa do Mundo na semana seguinte e agora caíram as fichas que esta’ acontecendo um grave problema na faixa de Gaza que sempre foi mais um dos grandes problemas sociais da região...
Tudo está interligado. O fanatismo, egocentrismo e nacionalismo exacerbado de alguns foi calado, espero que percebam o que se tem de importante pra falar neste mundo e mais do que isso, só falar e mudar de assunto não adianta, agir que é a questão. Eu tinha esperanças que a colônia libanesa no Brasil pudesse contribuir mais para a região, mas primeiro eles tem que entender, admitir o que realmente acontece por aqui.
Os libaneses que moram no Brasil tem liberdade de ir e vir, se aproveitam do melhor que cada um dos dois países oferece, mas os libaneses que vivem no Líbano ainda tem muito que conquistar, tem dificuldades em emigrar para onde querem, vivem sob ameaça de guerra constante e tem inúmeras questões sociais e religiosas que em um sistema arcaico de leis e cultura que não podem ser mudados facilmente... Um país com racionamento de água e energia constante e muito mais... As mulheres não tem tem direitos básicos aqui, hipocrisia dizer o contrario, falar que a mulher tem direitos aqui como em outras sociedades e’ no minimo omitir a realidade. O que adianta poder usar uma minissaia se não posso parir um filho sozinha???? Ficar babando com as belezas eu também babo, passar a receita do quibe da minha avó, também com todo orgulho mas que não venham criticar alguém que está trabalhando a favor de algo positivo.
A emissora errou em associar alguns ícones, ainda que não errou em fatos... as estatísticas correspondem a pesquisas e se quiserem comparar ao Brasil seria errôneo...
Não tem como comparar o Brasil com Líbano. Não podemos comparar um país LAICO, com 200 milhões de habitantes da America Latina, com um país CONFESSIONAL (multiconfessional pra ser mais exata), de menos de 5 milhões de habitantes do Oriente Médio, e cuja área territorial é menor que a cidade de São Paulo!!! E se formos comparar, os números  são alarmantes devido ao tamanho do território Libanês.
Devo fazer em breve uma pagina com fatos, temas, fotos do dia a dia no Líbano, pelo menos postando algo de assuntos gerais possa ajudar a informar mais, nao sou jornalista mas quero dividir minha experiencia de maneira informal. ;) 

Entrevistadora: Terra Mejestade.